terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Rumplestiltskin

Encerro aqui essa interatividrástica moda de vida através do “livro dos rostos” ou “bundas na janela”, como preferrirem. Por rasas rações proficcionais não desativarei essa conta, porém não prestarei, não darei e não dou mais conta. Esgotamento, mais além do cançaço. Deixarei de me esgueirar nesse lamassal medial ornamentado com narcisos publiciotários in-potenciais. Penso que o gênero humano ultrajado está maduro para algo mais. Os ofícios e artes trabalham pelo mínimo salário do mais secreto coração. Decifra-me que te devoro. Procure meu nome em terras onde não estou, e procure-me em terras onde meu nome não está.

Estou no outro lado do mundo, daqui a cem anos, levantando populações…
Me desespero porque não posso estar presente a todos os atos da vida. Onde esconder minha cara? O mundo samba na minha cabeça. Triângulos, estrelas, noites, mulheres andando, presságios brotando no ar, diversos pesos e movimentos me chamam a atenção, o mundo vai mudar a cara, a morte revelará o sentido verdadeiro das coisas. Andarei no ar.

Estarei em todos os nascimentos e em todas as agonias, me aninharei nos recantos do corpo da noiva, na cabeça dos artistas doentes, dos revolucionários.
Tudo transparecerá: vulcões de ódio, explosões de amor, outras caras aparecerão na terra, o vento que vem da eternidade suspenderá os passos, dançarei na luz dos relâmpagos, beijarei sete mulheres, vibrarei nos cangerês do mar, abraçarei as almas no ar, me insinuarei nos quatro cantos do mundo.

Almas desesperadas eu vos amo. Almas insatisfeitas, ardentes. Detesto os que se tapeiam, os que brincam de cabra-cega com a vida, os homens “práticos”…
Viva São Francisco e vários suicidas e amantes suicidas, os soldados que perderam a batalha, as mães bem mães, as fêmeas bem fêmeas, os doidos bem doidos. Vivam os transfigurados, ou porque eram perfeitos ou porque jejuavam muito...viva eu, que inauguro no mundo o estado de bagunça transcendente.

A nossa sensibilidade, os nossos sentimentos, já não nos prometem nada: sobrevivem ao nosso lado, faustosos e inúteis como animais domésticos de apartamento. E a coragem – perante a qual o niilismo imperfeito do nosso tempo não cessa de bater em retirada – consistiria precisamente em reconhecer que já não temos estados de alma, que somos os primeiros seres humanos não afinados com uma ‘stimmung’ (estados de alma, disposição interior), os primeiros seres humanos por assim dizer, não musicais: somos sem ‘stimmung’, ou seja, sem vocação. Não é uma condição alegre, como alguns desgraçados no-lo querem fazer crer, nem sequer é uma condição, se por condição entendermos necessariamente, e ainda, um destino e uma certa disposição; mas é a nossa situação, o ‘sítio’, desolado onde nos encontramos, absolutamente abandonados por toda a vocação e por todo o destino, expostos como nunca antes.

Silêncio e paz. Ali eu podia ter ficado para sempre. É algo que nos falta. Primeiro postamos. Depois postúmulos. E que chova agora se quiserem. Brava ou leve como queiram. Que chova e lave, pois meu tempo é breve. Dei o melhor de mim quando me deixaram. Pensando sempre se eu vou tudo vai. Muliticroscrúpulos, torturas tântalas, e há alguém que me entenda? Um em milumanoites? Toda minha vida entre esses e agora náusea. Náusea às suas minúsculas manhas mornas. Náusea aos seus médios modos cômodos. E todos os borbotões vorazes que brotam de suas semialmas. E todas as brechas de ócio em seus corpos de pedrorgulho. Como tudo é nada! Mas eu vou-me soltando deste resto que é tudo o que eu detesto. Solunaticamente em mim só. Por todas as suas culpas. Sim, me vou indo. Oh amargo fim! Eu me escapulirei antes que eles acordem. Eles não hão de ver. Nem saber. Nem sentir minha falta.
A via a uma a una amém a mor além a deus


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013