segunda-feira, 18 de outubro de 2010

trecho de "Conversa na Sicilia" - Elio Vittorini

"(...) Talvez fosse perigosa? Qualquer um, aos sete anos, vê milagres em todas as coisas, e a partir da nudez dela, da mulher, tem a certeza dessas coisas, como suponho que ela, nossa costela, tem a partir de nós. A morte existe, mas não tira nada da certeza; nunca, então, traz ofensa ao mundo de 'Mil e uma noites' do homem. Um menino não pede mais do que papel e vento, só tem necessidade de empinar um papagaio. Vai e empina, e é o grito que se levanta dele, e o menino leva-o pelos ares com fio longo que não se vê, e assim fica consumada sua fé, celebrada sua certeza. Mas, depois, o que faz da certeza? Depois conhece as ofensas feitas ao mundo, a impiedade e a servidão, a injustiça entre os homens e a profanação da vida terrestre contra o gênero humano e contra o mundo. Que faria agora se para sempre tivesse certeza? Que faria?, pergunta-se. 'Que farei? Que farei?', me perguntei. (...)"