segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ensaio para ensaio dos arcos

Em grande parte aquilo que compreendemos como sendo nossa idéia de mundo, uma forma entranhada de convívio com o outro, quase sempre seguida de uma maneira de agir, está constituída pela leitura (escuta). E mais entranhada se pode considerar esta leitura quando a tratamos como um sinal de convívio com o outro. Se escrevemos livros movidos por este cuidado – e aqui não se pode esquecer que o solilóquio é uma das manifestações de nossa entrega ao mundo – é também verdade que sua leitura se assenta em nossa percepção de uma familiaridade.


A muitos pode parecer estranho que se alcance tamanha afinidade com instâncias dentro e fora de nossa medida de tempo, o tempo real, do imediato, dessa fratura ditada pelo atual ou contemporâneo. Percorremos desembaraçados, entretanto, as trilhas mais suspeitas quando somos tocados pelo afetivo. Nenhuma temporalidade nos indica o caminho quando nos entregamos à vertigem do ser. Os dias, os livros, os amores. As anotações que fazemos no pergaminho do tempo são pirogravuras. Entram e saem pelo porto do infinito e identificam uma proximidade imprevisível entre circunstâncias díspares.

Já não se trata tão somente de ler no sentido corrente da interpretação como hábito ou lazer, tarefa ou mania, mas antes, uma disposição para participar do mundo, a partir dessa espiral reflexiva que transmite a leitura. É efetivamente trazer o mundo para dentro de si, na igual proporção em que se dispõe a dar tudo de si para participar deste mesmo mundo. É o que acontece quando nos integramos ao corpo da leitura onde a própria respiração se confunde com o batuque que vem de todos os sítios dessa leitura, ao ponto de criarem uma partitura de convergências, uma simultaneidade de aparências, elos que se definem onde antes talvez nem se houvesse dado por conta.

Tome free!

There then came down in the ugly streets of us
inside the head and tongue
of us
a man
black blower of the now
The vectors from all sources – slavery, renaissance
bop charlie parker
nigger absolute super-sane screams against reality
course through him
AS SOUND

 http://www.freejazz.org/

9 dicas pra poetas pós-modernos que fingem que não o são, ou pretendem um dia sê-los para fingí-los não sê-los

[insira aqui uma frase de efeito, se inspire em nicks de msn. "a vida é como um filme em preto e branco cujos atores se comportam como se tudo fosse colorido". faça de conta que foi extremamente pensado e filosofado, quando tudo o que você fez foi falar a primeira coisa sem noção que lhe veio à cabeça]

[insira aqui uma estrofe inteira com adjetivos óbvios e nomes comuns. mas finja que não são. "amor desnudo", "chuva cinza", "riso pálido", "olhos de faísca" são boas dicas]

[aqui é a hora que você fará trocadilhos idiossincráticos, como "cuscuz" com "avestruz", e "tatue" seguido de "menstrue", pra provar sua mente aberta às pós-modernidades]

[escreva todos os seus textos em letras minúsculas. estamos na era da internet, então você precisa propagar a idéia de que na "contemporaneidade a língua enfim se faz livre das amarras de uma sociedade opressora que..." é isso aí]

[quando passar da fase dos adjetivos óbvios e nomes banais, faça metáforas que ninguém compreende. como "a vida inteira passa em canos enferrujados e minhas lágrimas são chuva ácida." e justifique isso com uma afirmativa como "a verdadeira poesia vai além dos alicerces da razão" ou algo do gênero]

[tenha a afirmativa citada anteriormente salva no seu "ctrl+c" e anotada na penúltima folha do seu caderno. para emergências]

[faça textos idiotas e irônicos divididos em tópicos diferentes. pode ser uma receita de bolo disfarçada ou um passo-passo para qualquer coisa. isso também é original e pós-moderno. pra ser mais cool ainda, diga que é um poema com um olhar crítico da civilização ocidental disfarçado com uma pequena influencia de humor britânico, à la Monty Phyton. (nossa, boa, vou anotar isso...)]

[escreva títulos longos e versos assimétricos para seus poemas. para demonstrar sua versatilidade, depois, escreva sonetos de métrica incorreta. justifique o equivoco com o mesmo papo sobre "pós-modernidade liberta o individuo contemporâneo..." blablablá. use essa mesma desculpa esfarrapada pra justificar seus erros gramaticais]

[compre meia dúzia e meia de dor e amadurecimento no mercado livre. reze para não darem um lance maior que o seu antes das 2 horas da tarde do próximo sábado, senão...]

*assumo que isso é uma escrotidão.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Arcos

AS CABEÇAS, monstruosas, e a cidade
que elas cosntroem, em busca da
felicidade.

Se ainda uma vez, a ti fiel, fosses a minha dor,
e um lábio passasse por perto, do lado de cá, neste
lugar onde ando além de mim mesmo,

eu te levaria
por esta estrada
em frente.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Last Goodbye (Jeff Buckley)

This is our last goodbye
I hate to feel the love between us die.
But it's over
Just hear this and then I'll go:
You gave me more to live for,
More than you'll ever know.

Well, this is our last embrace,
Must I dream and always see your face?
Why can't we overcome this wall?
Baby, maybe it's just because I didn't know you at all.

Kiss me, please kiss me,
But kiss me out of desire, babe, and not consolation.
Oh, you know it makes me so angry 'cause I know that in time
I'll only make you cry, this is our last goodbye.

Did you say, "No, this can't happen to me"?
And did you rush to the phone to call?
Was there a voice unkind in the back of your mind saying,
"Maybe, you didn't know him at all,
you didn't know him at all,
oh, you didn't know"?

Well, the bells out in the church tower chime,
Burning clues into this heart of mine.
Thinking so hard on her soft eyes, and the memories
Offer signs that it's over, it's over.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Noturno

As correntes subterrâneas da dor.
Ninguém se lembra.
Ninguém virá até ti.
Nenhuma mão.
Nenhum abraço pela retaguarda.

Uma mulher.
Uma cidade.
Um céu.
Uma noite.

Carregas um imenso deserto despovoado,
esquecido,
repleto de sal.
São as salinas cristalinas de seus olhos,
que represam a contida intensidade de uma vida.
Mas eles se esquecem e vivem,
animam o repouso

Vou me largando de tudo e todos,
de tudo que é resto e sombras
Luto com tempestades profundas,
perco o controle do leme,
perco velas, marujos, bússula,
a direção das estrelas

É um naufrágio silencioso,
sem alarde.

É um rosto que se perde,
um corpo que resseca,
um carvalho rústico,
cortado, talhado,
moldado em nave, nau
e que agora sucumbe, se despede
e retorna às salgadas águas profundas
noturnas e fundas

minha ânsia, minha dor,
meu deserto.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

uma pseudo-teoria sobre o feminino...

Decidi escrever um pouco sobre algumas idéias que eu tenho sobre mulheres e o feminino. Não são idéias originais minhas, mas uma visão que eu tenho e que eu atualmente acredito. São impressões retiradas das minhas leituras, observações e experiências. Decidi compartilhá-las, expor, me expor aqui.

O assunto é...digamos... uma certa "dimensão ampliada" da mulher. O que tem nelas que me fascinam. Eis a minha visão sobre o tema:

Para se perceber uma dimensão ampliada nas mulheres o "amador" precisa captar uma outra esfera da Sedução. Ser seduzido nessa outra esfera é feminizar-se... Não confundir com se "afeminar!" São duas coisas bem diferentes! Um homem feminizado não é o gay, nem essa moderna representação andrógena do homem que encontramos nas revistas e passarelas da moda. Não se trata de uma questão de estilo, de aparência, de representação. Não é uma questão de impostura.

O crespúsculo do supermacho... A imagem de virilidade modifica com o tempo... O machista é aquele que só é capaz de entender e perceber a mulher pelo viés que lhe interessa: do macho.
Istó é:
Mulher = força de trabalho.
Mulher = fraqueza ou sedentarismo.
Mulher = reprodutora.
Mulher = objeto de prazer.
Mulher = consumidora.
Mulher = obediência.
Mulher = físico, aparência.

Territórios, domínios (dominação), marcas de poder.

O feminino é de outra ordem. É da ordem do fora, do des-poder, da anulação. O feminino é des-ordem. Ele é a ausência. É a mulher que dá forma à ausência. Ela tece, ela canta, encanta. Como negação, o feminino não é a negação como oposição de força (isso é feminismo), mas a escapada, o passo ao lado. Não é uma inversão, mas uma reversão. O feminino então não é o pólo oposto (+ e - / forte e fraco/ falo vs. castração), não é a outra parte, a outra metade do duplo. Ele é o exterior, o aberto, aquilo que faz fugir, a linha de fuga que esboroa a estrutura e a lógica. O feminino é uma intensidade no sentido Deleuziano.

Então aquele que só apreende a mulher como objeto de desejo deixa de captar essa dimensão libertária, escapando-lhe o feminino. Pra mim esse feminino é o mais atraente em uma mulher. Uma mulher só pelo fato de ser mulher não é suficiente para me atrair (seduzir). Também, uma mulher que seduz e investe sua sedução apenas na porção mulher=objeto de desejo, também se iguala àquele mesmo macho, já que sua sedução aí se encontra bastante circunscrita, reduzida. Nesse nível ela se iguala à outra ponta do jogo ordinário dos sexos. Ela entra e se adequa ao jogo do macho. Nesse lugar ela se basta por pouco atributos, geralmente físicos, eróticos ou exóticos. Ela se torna um fetiche. Todas que possuirem esses atributos mensuráveis estarão em pé de igualdade entre si e formarão uma massa. Daí a confusão e a pequena fartura ilusória dos machinhos: "existem tantas mulheres "boas" e "gostosas". Todas mulheres são iguais! Então quanto mais eu as possuir melhor! Terei várias! Comerei todas!"

A mulher aí se quantifica, se mensura: cor, cabelo, pêlos, pernas, pé, pele, barriga, cintura, unhas, sapato, lábios, meia, blusa, bunda...

O feminino não. O feminino é desmesura.

Ora, Don Juan (o conquistador de mulheres) foi por acaso artista? É uma questão. A arte talvez esteja na ordem do feminino. E não se trata de um feminino sem punjança, sem vigor, sem sangue, sem beleza. O feminino também pode ser viril. Ele tem sua força. Não podemos confundir força com poder. Força também não é sinônimo de emasculado.

É preciso que esta esfera do feminino me transe, me capture, me arraste, me faça fugir. Nesse ponto eu também me torno (devir) um pouco feminino. Todo homem que fala da ausência do outro, feminino se declara: esse homem que espera e sofre, está milagrosamente feminizado. Um homem não é feminizado por ser invertido sexualmente, mas por estar apaixonado. O futuro pertencerá àqueles que têm algo de feminino.

Sempre gostei de observar homens fazendo coisas que revertem a tradicional representação do homem viril. Geralmente são atividades delicadas (mas não confundir o feminino também com o delicado ou o idílico!) Ex: Um jardineiro; um homem que carrega ou dá de comer a um bebê; um pintor; um bailarino; um alfaiate; um cozinheiro etc..

O detalhe disso tudo é que, como animais que somos, homens e mulheres precisam satisfazer suas necessidades e pulsões mais básicas e primordiais. Nos igualamos e nos entretemos na esfera do bicho. Somos todos bichos... (e alguns, bichas...) A carne quer satisfazer-se, quer deixar ser possuída pela pulsão primeira. E aí nós nos adequamos nas relações e nas projeções mais imediatas e corriqueiras: ele me come, eu como ela. "Quero que ele me pegue como uma mulherzinha" e vice versa. Istó é bem natural, bem natural e normal! Isso não deixa de ser prazeroso, saudável e recomendável! Sou da opinião que isso é fundamental (o arroz com feijão!) e não pode ser reprimido, censurado ou posto de lado. Afinal somos animais (animais não desanimais!) com corpos desejantes, cheios de órgãos, glândulas e hormônios capazes de alterar nossa imaculada mente e psicologia.

No entanto acredito que uma visão mais "abrangente" da mulher e uma mais "rústica" podem sim caminhar juntas e entrelaçadas, sacou?

De certa forma sou um fracasso no papel do macho garanhão, "pegador". Tenho consciência que dedico parte do meu tempo, da minha libido e imaginação nessas porções menos palpáveis, e que procura abrir as janelas para a brisa do feminino entrar na minha vida. Não sou menos homem por ser mais sensível nesse aspecto. É uma troca simbólica de alto nível, não menos intensa do que a carne, mas de outra modulação. Ela investe a carne de outros matizes, outras correntes, outras erupções, outras agitações. O bom da coisa é que uma não impede a outra. Ela é um acréscimo, uma exorbitância. Então por que não?

Sim. O "sim" feminino que se prolifera e encerra o monólogo de Molly Bloom no Ulisses de Joyce. O "Sim, eu quero sins": o desejo ampliado, a exaltação de uma vida imensa. O feminino é uma invasão, uma outra penetração. Ele penetra e enche de vida a vida do "amador". O feminino é um transbordamento, um acesso afeito ao poético. Algo como uma mudança de ar.

Sinto-me bastante amador. Amador com mulheres.

E por aqui fico. O feminino ultrapassa e escapa a todo esse meu palavrório, essa retórica que se captula tentando territorilizar e dizer sobre o indizível e o incapturável: o feminino, pura intensidade.

Encerro com um trecho literário de O Amante de Maguerite Duras. É uma mulher quem fala:

Certo dia, já na minha velhice, um homem se aproximou de mim no saguão de um lugar público. Apresentou-se e disse: “Eu a conheço há muito, muito tempo. Todos dizem que era bela quando jovem, vim dizer-lhe que para mim é mais bela hoje do que em sua juventude, que eu gostava menos de seu rosto de moça do que desse de hoje, devastado.”

Penso freqüentemente nessa imagem que só eu ainda vejo e sobre a qual jamais falei a alguém. Está sempre lá no mesmo silêncio, maravilhosa. É entre todas a que me faz gostar de mim, na qual me reconheço, a que me encanta.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Natural Woman

"O desejo do homem é pela mulher, mas o desejo da mulher é pelo desejo do homem." (Madame de Städel)

"Eu quero me divertir. Eu quero brilhar como o sol. Eu quero ser o que você quer ver. Eu quero tricotar um suéter. Eu quero lhe escrever uma carta de amor. Eu quero fazê-lo sentir-se bem. Eu quero fazê-lo sentir-se livre."
(Joni Mitchel)

Quando o assunto é desejo, a atração que liga por exemplo um homem e uma mulher, fico com uma vontade irresistível de entrar na cabeça de uma mulher! Eu queria ter por uns momentos um coração de mulher pra saber o que elas pensam e o que elas sentem! Elas também devem ter suas interrogações perante  nós homens. Às vezes (é raro), consigo captar uma deixa aqui outra ali que escapa das suas conversas! Na maioria das vezes, e isso é clássico, elas costumam esconder o jogo e fazer mistério. Temos que decifrar os silêncios, as mexidas no cabelo e por aí vai...

Um dia desses ouvi uma música no rádio e fiquei paralisado: era uma música cantada pela Aretha Franklin...chamada ("You make me feel like a) Natural Woman". Depois descobri que a letra é de Kelly Clarkson.

Então aí vai uma dica para os rapazes  e talvez ajude também a clarear algumas coisas para as moças também. Uma letra assim faz a gente pensar. Deixa estupefado.  No fim nada importa...tudo é muito simples e não interessa qual o caminho a ser percorrido. Alguém disse "o amor é o desejo irresistível de se sentir irrresistivelmente desejado". Não interessa "como" e não há "se", isto é condições e condições, mas o que se espera é se sentir como um homem ou uma mulher naturais. Só isso. Sacou?  Então galera, moças, rapazes, amantes, namorados, casados em fim...me façam um favor: facilitem o esquema! Lubrifiquem a engrenagem! Arejem o lance! Parem de tirar pêlo de ovo! Descompliquem!  Deixa a coisa rolar mais naturalmente simples. Gozem a vida por favor!! rs...

Vou colocar a letra e a tradução:

(You Make Me Feel Like A) Natural Woman
Looking out on the morning rain
I used to feel so uninspired
And when I knew I had to face another day
Lord, it made me feel so tired
Before the day I met you, life was so unkind
But you're the key to my peace of mind
Cause you make me feel, you make me feel, you make me feel like
A natural woman
When my soul was in the lost and found
You came along to claim it
I didn't know just what was wrong with till your kiss helped me name it
Now I'm no longer doubtful of what I'm living for
Cause if I make you happy U don't need to do more
Cause you make me feel, you make me feel, you make me feel like
A natural woman
Oh, baby, what you've done to me
Oooo you make me feel so good inside
And I just want to be close to you
You make me feel so alive
You make me feel, you make me feel, you make me feel like
A natural woman

Você me faz sentir como uma mulher natural
Olhando para a chuva matinal
Eu costumava me sentir tão desmotivada
E quando eu soube que tinha de encarar outro dia
Senhor, isso me fez sentir tão cansada
Antes de te conhecer,a vida era tão cruel
Mas você é a chave pra minha paz de mente
Por que você me faz sentir como se fosse uma mulher natural
Quando minha alma estava entre os achados e perdidos
Você chegou junto pra mudar isso
Eu não sabia o que tava errado até o seu beijo me ajudar a nomear isto
Agora não estou longe de duvidar pra que estou vivendo
Porque se eu faço você feliz,você não precisa fazer mais...
Por que você me faz sentir como se fosse uma mulher natural
Oh,amor,o que você tem feito pra mim
Oooo,você me faz sentir tão bem por dentro
E eu só quero ficar perto de você
Você me faz sentir tão viva
Você me faz sentir como se fosse uma mulher natural

sábado, 7 de novembro de 2009

Reencontrei um e-mail de um amigo meu..(queria te encontrar um dia por aí cara...pra falar da vida)

Os meu beijos , já não convencem .
Agora, só a técnica me ama.
O desenho, a pintura e no horizonte, a escultura em delicadas linhas.

O que fiz ate aqui, digo que não gostei, nem da nossa postura nem da nossa cumplicidade.
Até agora varal, meu risco em você foi promíscuo, reencontro com febris noitadas adolescentes vazias, em ações de gestos tôrpedos , de substancias sem honra nem zelo, nenhuma identidade.

Não quero emprego, nem em produtora ou quem sabe editora.
Quero ser artista e pronto . Autônomo , com firma reconhecida. Meu trabalho, meu nome, minha vida. Responsabilidade diária e pratica intensiva.

O tempo não me espera, e não sei em que curva a morte me lançará a sorte de conhecer a vida em outra forma.

Do meu quarto, em vigília, ouço atordoado o som das ruas, ouço gritos alucinados de seres que vagando se dizem humanos , sem noção nenhuma do que seja realmente ser.

Cansei de representar um sonho, não quero fazer cena. Minha arte não é propaganda. Meu desejo é silêncio.
Caros amigos, não me envergonha dizer ,retiro-me, pois meu assento nesse varal se encontra cheio de merda, preciso agora me limpar.

Demito-me da instituição.

Por falta de condições seguras de pouso e decolagem.
Existem pedras e areia na pista, e quem voa , sabe que isso é insegurança para a atividade de criar, além de provocar alergias.

Esse pássaro que aqui vos fala vai buscar autonomia de vôo
Abrigo nas montanhas.

E na volta em sobrevôo quem sabe com pista e trem de pouso limpos eu possa repousar meu ideais sobre essa causa tão nobre da união

Não perdi o fôlego para o trabalho, nem estou confuso com meus estudos.
Escrevo-lhes o meu ser sincero, quero por algum tempo, todo tempo,
Sozinho, Marcelo Adão.
Sempre disposto ao trabalho
Exceto se esse, for jogar baralho.
Aos que leram até aqui , muito obrigado
Amo-lhes, assim como Deus me Ama.
Carrego nas costas o que quiser conhecer luz.

Belo Horizonte 08/07/07

Gosto muito de Joseph Beuys...




por

Thomas Hirschhorn

Cara, Coralie:Pediste-me no outro dia que te ajudasse a descobrir Joseph Beuys. Não creio que isso seja possível, pois a descoberta de um artista faz-se através da sua obra. Há aliás no Beaubourg uma ou duas obras dele que merecem ser vistas, sobretudo a peça Fond IV. Mas o que eu vou fazer é tentar explicar-te porque gosto dele.


A verdade é que quando digo que gosto dele não me refiro apenas ao seu trabalho, ou à sua vida, ou ao que ele quis. Gosto dele por motivos pessoais, porque este artista permitiu-me fazer uma abordagem sem complexos, não elitista, da arte. A arte dele afecta-me, diz-me qualquer coisa, tem um significado especial para mim, ajuda-me. A obra dele ajuda-me, a mim, a viver e a trabalhar. Embora tenha decidido dizer-te tudo isto aqui, estou consciente da quase impossibilidade do que resolvi fazer; é muito subjectivo e até talvez ingénuo.


Não há dúvida de que o que me impressiona em Joseph Beuys e o que eu sinto por ele é, em grande medida, demasiado parcial, compartimentado, talvez mesmo, quem sabe, redutor do seu percurso, mas é o que eu penso e portanto esta carta também é uma maneira de eu me aperceber um pouco melhor de como vejo Joseph Beuys. De uma maneira geral, as cartas que escrevo são sempre também cartas para mim mesmo. É sem dúvida egoísta, mas é a verdade. Pelo menos assim não preciso de me preocupar com respostas ou reacções negativas. Será talvez auto-análise primária, ou um recurso existencial.


Não sei. Joseph Beuys realizou uma obra intitulada Das Kapital ou apenas Kapital; seja como for, essa obra, que está agora em Schaffhausen, na Suíça, é na minha opinião uma obra capital. Não apenas essa obra, mas tudo o que Beuys disse em volta desse termo: ‘capital’. E para mim é absolutamente claro que foi a interpretação, sem dúvida muito pessoal, que Beuys faz do termo ‘capital’ que me ajudou a desenvolver o meu trabalho e a perseverar nele. Para começar, Beuys explica que, quando usa o termo ‘capital’ não está a falar do capital do capitalismo, nem do capital no sentido marxista, descrito em Das Kapital.


Aliás , Beuys sempre proclamou o fracasso desses dois sistemas redutores. Beuys afirma que é a arte o verdadeiro capital concreto. É muito importante salientar aqui que ele não estava a pensar em telas ou esculturas, ou noutras coisas passíveis de ser vendidas. Não, o processo criativo que conduz à realização de uma obra de arte, em que a arte consiste, esse é que é o capital. É, pois, evidente que capital nada tem a ver com dinheiro. O capital não é o dinheiro. Para mim, é tão importante entender isso de uma vez por todas que, no meu caso, depois de o ter percebido verdadeiramente tudo mudou. Muda tudo. Coralie, foi isso que aconteceu. Nunca ninguém mo tinha dito e um artista que consegue dizer isso e demonstrá-lo através da sua obra é de facto um artista fundamental.


Porque, na minha opinião, a força da obra de Beuys reside precisamente no facto de mudar tudo na prática, tornar tudo diferente no dia-a-dia, e para mim a grande arte é a que consegue isso. E não a arte pela arte, de novo em voga neste fim de século, ou a arte para melhorar ou suportar o quotidiano. É a arte que muda o homem. Como compreender então a afirmação de Beuys de que todos os homens são artistas? Justamente à luz do termo ‘capital’ que é, portanto, a energia, a criatividade, a capacidade de cada um. Não é o talento. Não é a habilidade. Não é o dinheiro. Não é a educação.


E não é o facto de se nascer em tal ou tal meio. Essa energia, essa criatividade, essas capacidades individuais que todos temos, não as temos talvez sempre em doses iguais, por certo uns têm mais disto ou daquilo, mais tarde ou mais cedo, em maior ou menor quantidade. Essas energias são o capital de cada um, mas é preciso perceber que esse é o verdadeiro capital e tomar consciência disso é um acto de tal modo criativo, artístico, que quem o faz tem de ser um artista. Esse indivíduo pode ser empregado de balcão, cientista, motorista, músico profissional, mas é um artista. Essa percepção de si mesmo como artista, com determinadas capacidades e consciente delas, e que por conseguinte sabe que dispõe de um capital que claramente não é o dinheiro que tem ou deixa de ter, essa consciência de que cada um tem o seu próprio capital é muito importante porque transforma as relações entre as pessoas.


Deixa de ser possível uma exercer poder sobre outra por ter capital capitalista, capital institucional ou capital moral. O único capital que conta é o capital pessoal e a consciência que cada um tem dele. É evidente que isso coloca as pessoas em pé de igualdade. É assim que eu entendo a frase “cada pessoa é um artista”. No meu caso, trabalho para tomar consciência do meu capital. Sabes, quando penso em todas as obras que fiz, as “fifty-fifty ” e as outras, que estão guardadas aqui e ali, vejo que possuo um capital, mesmo que tenha dívidas em dinheiro, percebes; investi a minha energia no meu trabalho, fui criativo, criei e agora esse é o meu capital, e é muito importante não pensar: “é um capital que pode ser vendido e portanto transformado em dinheiro”; não, fiz o meu trabalho, ele existe, é a minha riqueza. Outras pessoas terão outro tipo de capital.


Pensar é riqueza. Fazer pão é riqueza. Etc… Gosto de, nos grandes cafés, observar os empregados atrás do balcão, estão sempre ocupados com qualquer coisa, sempre em movimento, têm sempre trabalho a fazer. Essas pessoas são artistas. Detesto as pessoas que não fazem nada alegando que não têm dinheiro para isto ou aquilo. É uma desculpa para não fazerem nada, ou pior ainda, a admissão de que o dinheiro é que é o verdadeiro capital. Isso é capitalismo. Mas há tantas provas no cinema, na pintura, até no mundo dos negócios, de que essa importância que se dá ao dinheiro não deve de facto ser levada a sério. Sempre me fascinaram as pessoas que não têm nada e fazem fortuna.


É uma das coisas de que gosto nos Estados Unidos e acho que essas pessoas são artistas. Aliás, Andy Warhol dizia qualquer coisa parecida, que o artista do futuro é o empresário. Não se deve considerar isso cinismo. Seja como for, também gosto muito do Andy e de outros. Joseph Beuys permitiu-me viver sem me tornar cínico, permitiu-me trabalhar sem complexos, permitiu-me existir sem que as dúvidas que tenho, e que é bom termos em relação ao nosso trabalho, destruam a energia que me faz criar. Bem, isto agora tornou-se um pouco elogioso, mas tu sabes que é preciso, porque às vezes Beuys é atacado, relativizado pelos meus camaradas. Artistas ou não, e tenho este amor indiscutível por ele que durará para sempre. Tenho a certeza.


Tradução do francês de Sofia Gomes
* Thomas Hirschhorn: (1957, Berna Suiça). A sua obra já foi apresentada em instituições como a tate Modern, o Centro George pompidou, o Art Institute of Chicago, o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, O Museu de Serralves, Porto, e eventos como a Bienal de veneza (1999) e a Documenta de kassel (2002). Actualmente vive e trabalha em Paris

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

havia a uma a una amém amor além a

Há aqueles que se satisfazem com a ordem do dias.
A isso se chama: ordinariedade.
E esses se acostumam com o realismo que os cerca.
E há aqueles que mergulham na noite.
Para esses a ordinariedade é árdua. Causa enxaquecas.
Para esses  'transporte' é vida, é ar.
E transporte não se compele.

Sonho com vozes e línguas estranhas.
Sonho com imagens de um outro mundo.
Sinto aromas  e temperaturas de outra espécie.


Sou atravessado pelo aquilo que não sou, que não sei, e que não cogito.

Nascem asas em minhas costas e elas espantam esse mundo de fatos
 e me levam para longe, para o distante e ainda não-sonhado.

Há canções a serem cantadas muito além dos homens.

AS RUÍNAS RASCANTES DE WAITS por SIMON SCHAMA


Vou em frente. Chega de perder tempo com gente como Prokofiev ou Trollope. Os artistas com quem passo meu tempo são os que expandiram os limites da sua arte com coragem e inventividade, que transformaram a sua obra em algo imprevisto. Tão imprevisto que, encantado de espanto, você só consegue coçar a cabeça e dizer: "Bom, é, claro", como se aquilo que inventam fosse a coisa mais natural do mundo. É por isso que gosto do que Thomas Carlyle fez com a literatura histórica, do que Jackson Pollock fez com a pintura, do que Wallace Stevens fez com a poesia. Não é absurdo incluir na companhia deles Tom Waits, o mais eloqüente dos poetas-compositores americanos. Chega de Bob Dylan. Não que as coisas de Dylan sejam ruins. Mas sobre ele já se escreveram milhares de páginas de um pomposo lero-lero analítico (que só fica aquém do suscitado por Freud) enquanto quase ninguém começou a reconhecer o valor de Tom Waits.

E por que haveriam de dar-lhe atenção? Porque ele transformou a música americana na canção de homens e mulheres comuns, surpreendidos naquele beco turvo e malcheiroso que fica entre a retórica pueril do "sonho americano" e a impiedosa realidade da vida contemporânea. Por acaso você se interessa pelo depoimento – de sinceridade desesperada, desalentada e pungente – sobre as provações de um americano comum, preso a uma guerra que ele não entende, mas da qual não tem como escapar com dignidade? Escute então "The Day After Tomorrow". Nela, Tom Waits rosna e ruge a letra com as ruínas rascantes de uma voz que lembra um prédio reduzido a escombros, coberto de areia contaminada.

Essa voz, órgão de um homem muito maior do que essa figura leve de clown delicado (um dos seus CDs traz seu rosto pintado de pierrô – ele é um artista que sabe exatamente o que faz), é um dos maiores instrumentos sonoros da arte americana. Outros compositores competentes – Dylan, o canadense Leonard Cohen – também extraíram ênfase dramática das suas laringes danificadas, adequadas ao gume cortante das suas letras. Na direção oposta, o vagido em falsete de Neil Young ficou mais e mais doloroso à medida que adquiria uma urgência desesperada. Mas nenhum deles cogitou em transformar sua voz num retrato sonoro de um país, de maneira tão inteligente – e bem-sucedida – como Waits. Ele é o Kurt Weill da América imperial (e, por algum tempo, estudou Weill com empenho um tanto excessivo), imitando a fúria percussiva e discordante das canções mais abrasivas de Weill.


A comparação não faz justiça à originalidade de Waits. Existe algo de shakespeariano na vastidão da sua abordagem da vida americana moderna, na sua espantosa capacidade de penetrar nas cabeças e nos pulmões de, entre outros, bêbados de bar, putas, viciados, locutores de circo, veteranos de guerra com braços e pernas salpicados de fragmentos de metal e reduzidos a vender suas medalhas na calçada, pregadores pentecostais trovejando sobre o fim do mundo, ex-craques arruinados do beisebol devastados pela bebida, malucos de pavio curto, otimistas melancólicos quase perdidos de tão mareados nos seus martinis; e, num caso improvável, um morto que, sete palmos debaixo da terra, canta em voz suave, pedindo à sua amada que venha se sentar na relva da sua tumba. Só Tom Waits seria capaz de produzir uma canção inteira a partir de uma série de infomerciais ("Step Right Up") e, de alguma forma, transformar a lista num documentário exaustivo e engraçado da credulidade e da esperteza americanas: "The large print giveth / And the small print taketh away" ("As letras graúdas dão / E as letras miúdas tomam").

Este é apenas um apanhado, muito breve, das suas muitas encarnações. Quando se mergulha no mundo de Waits, não se embarca numa viagem de sonhos à terra da melodia alegre e do acalanto musical. Você vai parar numa lanchonete de talheres engordurados, na hora em que a aurora grisalha vem raiando sobre o lixo espalhado no pátio de estacionamento. Numa introdução a "Eggs and Sausage", numa apresentação ao vivo de 1975, Tom Waits nos previne contra costeletas de vitela "perigosas, que descem do balcão para quebrar a cara do café, fraco demais para se defender".

Embora seja vinagre nas feridas abertas do sentimentalismo otimista americano mais piegas, também existe paixão e ternura fervilhando nas suas canções. "Ol' 55", uma das primeiras canções do seu disco de estréia, Closing Time, é uma ode à alegria de emergir às 6 da manhã de uma noite de amor ("My time went so quickly / I went lickety-splitly out to my Ol' 55 / and I pulled away slowly, feeling so holy / God knows I was feeling alive" – "Meu tempo passou tão depressa / e saí satisfeito e saltitante para o meu velho Oldsmobile 55 / e fui embora dali devagar, me sentindo tão sagrado / Deus sabe o quanto eu me sentia vivo"). Eis a mais linda canção de amor desde que Gershwin e Cole Porter fecharam a tampa dos seus pianos. Geralmente, porém, as letras de amor de Tom Waits ardem de um salgado desencanto, o que as torna ainda mais tocantes. "Never Talk to Strangers" é um dueto de banco de bar com Bette Midler, em que a rotina previsível do desajustado ("I'm not a bad guy when you get to know me" – "Não sou um mau sujeito quando você me conhece melhor") é antecipadamente esvaziada porque ela adivinha exatamente cada fala que ele vai dizer, ao mesmo tempo em que os dois ainda assim acreditam novamente em tudo.

Conheci tarde esse trovador da decadência. Um diretor da BBC, ao adaptar meu livro Paisagem e memória para a televisão, usou a interpretação de Waits para "Sea of Love", de Phil Phillips, como fundo para imagens de arquivo das enchentes de Veneza. Em lugar de uma voz edulcorada, ouvia-se um rugido feroz, que virava pelo avesso o tom da canção. (Ele tem uma recriação ainda mais espantosa de "Somewhere", de West Side Story, que faz qualquer um sentir na medula dos ossos a total desesperança da dor adolescente.) Eu nunca tinha escutado nada parecido. Quem era aquele sujeito, perguntei ao diretor. Desde então me viciei em Tom Waits. Como se pode deixar de acompanhar um escritor que produz um verso como "her hair spilled like root beer" ("seus cabelos se derramavam como root beer"), e te faz entender exatamente o que ele queria dizer?

A waitsomania não é um vício confortável. O percurso de Tom Waits desde os anos 70, quando era mais um compositor do Meio-Oeste a dedilhar seu violão, adaptando o country and blues à sua voz áspera, tem sido uma viagem a recantos cada vez mais profundos e sombrios da psique americana. Enquanto Dylan estendia a sua dama deitada (Lay Lady Lay), Waits cultivava a crueza brega, cantando, em tom muito educado, "I'm Your Late Night Evening Prostitute" ("Sou a sua prostituta da noite no meio da madrugada"). E de lá, muito previsivelmente, afundou no lodaçal costumeiro do álcool e das drogas, de onde acabou emergindo com a ajuda de sua parceira nas canções e co-produtora Kathleen Brennan, responsável por alguns dos produtos mais brilhantes da crueza de Waits.

Ninguém se compara a ele na evocação de todo tipo de música, do realejo mecânico dos carrosséis ao saxofone em surdina dos cabarés de Berlim, do bel canto italiano e, ultimamente, dos sons africanos e latinos. Às vezes, ele é capaz de levar sua recusa furiosa da autocomplacência à beira da paródia de si próprio, a um ponto em que gritos primais, grunhidos e berros, acompanhados pelo clangor de tampas de panela e da percussão nos objetos mais variados, acabam desabando num fosso profundo de cólera vocal. Ouvir essas canções é como mascar arame farpado. Mas, ainda assim, em meio a toda essa carnificina vocal, surge em algum ponto a inocência maculada de alguém que ainda imagina que possa haver uma vida boa, afinal de contas, logo além da esquina. O jovem soldado, que escreve para casa em Illinois, curvado ao peso de um conhecimento precoce adquirido à custa de sangue, canta: I'm not fightingFor freedomI'm fighting for my lifeAnd another dayIn the world hereI just do what I'm toldYou're just the gravel on the roadAnd the ones that are luckyCome homeOn the day after tomorrow ...

(Não estou lutandoPela liberdade
Estou lutando pela minha vida
E mais um diaNo mundo daqui
Só faço o que me dizem
Vocês são só o cascalho da estrada
E os que têm sorte
Voltam para casa
Depois de amanhã...)
Revista Piauí / fev 2007



 
 

domingo, 1 de novembro de 2009

Rock !!!!

SoNiC YoUtH



SHADOW OF A DOUBT

"Met a stranger on a train
he bumped right into me
I swear I didn't mean it
I swear it wasn't meant to be
must a been a dream
from a thousand years ago
I swear I didn't mean it
I swear it wasn't meant to be
from the bottom of my heart
he was looking all over me
together everafter
he said
"You take me & I'll be you"
"You kill him & I'll kill her"
kiss me
I swear it wasn't meant to be
I swear I didn't mean it
kiss me
kiss me in the shadow of
kiss me in the shadow of a doubt
kiss me
kiss me in the shadow
kiss me in the shadow of a doubt
it's just a dream
it's just a dream i had
nononoooooh
swear it's just a dream
just a dream
dream i've had
no
no
no
no
take me to it
take me to her
maybe
maybe it's just a dream
it's a dream
it's just a
just a
no

met a stranger on a train
bumped right into me
swear i didn't mean it
swear it wasn't meant to be
must've been a dream
from a thousand years ago
kiss me
kiss me in the shadow of a doubt
kiss me"