domingo, 29 de janeiro de 2012

Enquanto houver burguesia, não vai haver poesia



A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia
A burguesia não tem charme nem é discreta
Com suas perucas de cabelos de boneca
A burguesia quer ser sócia do Country
A burguesia quer ir a New York fazer compras
Pobre de mim que vim do seio da burguesia
Sou rico mas não sou mesquinho
Eu também cheiro mal
Eu também cheiro mal
A burguesia tá acabando com a Barra
Afunda barcos cheios de crianças
E dormem tranqüilos
E dormem tranqüilos
Os guardanapos estão sempre limpos
As empregadas, uniformizadas
São caboclos querendo ser ingleses
São caboclos querendo ser ingleses
A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia
A burguesia não repara na dor
Da vendedora de chicletes
A burguesia só olha pra si
A burguesia só olha pra si
A burguesia é a direita, é a guerra
A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia
As pessoas vão ver que estão sendo roubadas
Vai haver uma revolução
Ao contrário da de 64
O Brasil é medroso
Vamos pegar o dinheiro roubado da burguesia
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Pra rua, pra rua
Vamos acabar com a burguesia
Vamos dinamitar a burguesia
Vamos pôr a burguesia na cadeia
Numa fazenda de trabalhos forçados
Eu sou burguês, mas eu sou artista
Estou do lado do povo, do povo
A burguesia fede - fede, fede, fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia
Porcos num chiqueiro
São mais dignos que um burguês
Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
Mas este quer construir um país
E não abandoná-lo com uma pasta de dólares
O bom burguês é como o operário
É o médico que cobra menos pra quem não tem
E se interessa por seu povo
Em seres humanos vivendo como bichos
Tentando te enforcar na janela do carro
No sinal, no sinal
No sinal, no sinal
A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia.

(Cazuza)

Os passistas

Vem,
Eu vou pousar a mão no teu quadril
Multiplicar-te os pés por muitos mil
Fita o céu,
Roda:
A dor
Define nossa vida toda
Mas estes passos lançam moda
E dirão ao mundo por onde ir.
Ás vezes tu te voltas para mim
Na dança, sem te dares conta enfim
Que também
Amas
Mas, ah!
Somos apenas dois mulatos
Fazendo poses nos retratos
Que a luz da vida imprimiu de nós.
Se desbotássemos, outros revelar-nos-íamos no Carnaval.
Roubemo-nos ao deus Tempo e nos demos de graça "a beleza total, vem.
Nós,
Cartão Postal com touros em Madri,
O Corcovado e o Redentor daqui,
Salvador,
Roma
Amor,
Onde quer que estejamos juntos
Multiplicar-se-ão assuntos de mãos e pés
E desvãos do ser.
(Caetano Veloso)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Tema de Verão. Por que não?

"A música é a coisa mais doce do mundo. Adoro o som de notas musicais. Correria mil léguas só para ouvir uma. Muitas vezes, no verão, quando passeio pelas ruas e ouço o som de um piano vindo de uma casa desconhecida, paro, pronto a morrer logo ali. (...) Um piano, acho eu, é o que soa com mais encanto. Mesmo nas mãos de um amador. Não é a interpretação que escuto, apenas o som. Nunca poderia ser músico. Porque fazer música nunca seria suficientemente doce, suficientemente inebriante para mim. Ouvir música é, de longe, mais espiritual. A música deixa-me sempre triste, mas triste no sentido em que um sorriso triste é triste. Uma tristeza simpática, é o que quero dizer. A música mais alegre não é alegre para mim e a mais melancólica não me toca com particular melancolia ou desânimo. Ao ouvir música, tenho sempre a mesma impressão: falta qualquer coisa. Nunca descobrirei a causa desta suave tristeza, nunca hei-de investigá-la. Não desejo saber o que é. Não desejo saber tudo. Inteligente, como penso que sou, tenho, no entanto, por assim dizer, pouca sede de conhecimento. Desconfio que é por eu ser, por natureza, o oposto de curioso. Sinto-me perfeitamente feliz deixando todas as coisas em meu redor correrem sem preocupar a minha cabeça com o modo como acontecem. De certeza que isto é deplorável e não me ajudará a seguir uma carreira (...)" 
Robert Walser (Trecho do diário do escritor suíço com o título A Música)
SEM VITÓRIA, VIVES COMIGO,
pequena
e carregada.

Só lá fora, onde
as nossas almas ainda estão, na terra de ninguém,
é que se canta. Canta-se
no brilho
daquilo que passou ao nosso lado.

Nem nuvem, nem estrela - nós
não olhamos para cima.

Chega-te mais, anda:
para que não sopre suas vezes o vento
através da nossa
casa aberta.

domingo, 22 de janeiro de 2012

sábado, 21 de janeiro de 2012

"Há que se morrer como morrem as sempre-vivas. Escapar-se de si sem furtar-se aos olhares alheios. Ser, a um tempo, presença e ausência."

Bartolomeu Campos de Queirós

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

NÃO TE APAGUES TOTALMENTE – COMO OUTROS FIZERAM
antes de ti, antes de mim,

a casa, depois da chuva de flores em botão,
depois, do
abraço,
expande-se sobre nós,
enquanto a pedra
cria raízes,

um candelabro, grande e solitário,
emerge também,
reconhece,
quando a taça, toda de pórfiro,
estala, como
tudo está cheio de coisas
ocultas, inevitáveis,

fica a saber
onde estão agora os olhos abertos,
de manhã, ao meio-dia, à tarde, à noite.

Mãe e filho

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

domingo, 1 de janeiro de 2012