quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

... e um dia Andrei sonhou, e juntos nós levitamos para lá ...

protesto aqui com as veias repletas de estrelas:

a carreta estava on the road.
na boléia a juventude eterna, os loucos de Keroauc, os pinos redondos nos buracos quadrados.

os yuppies deram uma guinada poderosa no voltante das gerações.
essa guinada ainda está em processo, em slow motion, não sabemos ainda se iremos capotar ou despencar no precipício ou quem sabe atravessar a pista e chocar com um trem, um ônibus espacial, um andarilho, ou ciclistas aventureiros. Qual desfiladeiro?

minha geração já não é uma beat generation. Nem a de 68. Somos uma resultante esquálida de um processo engendrado pelo sistema financeiro mundial e que foi incorporado pelos nossos pais e que agora lentamente e subtamente incorporamos. Ninguém mais habita as ruas, nem sai às ruas para conversar com transeuntes, transá-los, poetizar. A arte virou coisa institucional, fechada aos que possuem as credenciais de acesso. Aos que possuem pouco ou muito dinheiro. Aos iniciados por autoridades, formados em espaços privados. ACESSO NEGADO é o que diz o letreiro.

E a violência, a desumanização e a banalização se generaliza e multiplica. O golpe do terror, dos corruptos, dos falsários, dos medíocres, do crime-organizado. As trevas se escancaram. E o contrário disso tudo se atrofia e aqui e ali tenta encontrar ar, em espasmos de agonia.

é preciso ser vagabundo, iluminado, apaixonado. É preciso sentir e cultivar uma inquietação, uma ânsia pela beleza, um amor pelo conhecimento, por desarrumação e por uma outra ordem simbólica dos fatos. Há um sentido na vida. Há um destino: o outro-diferente-de-si-mesmo.

então, você, meu amigo(a), vamos lá?
Vamos transportar o fogo nas mãos?

the one page
left my hand
falling like leaves
calling like breezes
making the moments
finding a reason
to be

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Keith Jarret, um músico...

Saiu na Folha do último domingo uma matéria sobre o pianista Keith Jarret. Nela ele disse:

"O ano passado me ensinou muito sobre a natureza humana.
As pessoas são profundas, as pessoas são criaturas com pouco a que se apegar.
Tocar pode ser uma viagem a um território emocional, mas também representa um salva-vidas."

No I Ching - O livro das mutações datado de 3.000 anos a.c possui uma parte dedicado à música: Yo Ching. Nela há uma passagem que diz mais ou menso assim:

sobre a música:
"o mais profundo da emoção com o qual ainda não se pode conhecer".

Um amigo meu e grande artista, Rufo Herrera, disse outro dia algo do tipo:
(não me lembro das palavras tim-tim po tim-tim. Espero não estar traindo as palavras de um amigo).

"Nós ainda não compreendemos ou 'captamos' o que a música tem a nos oferecer. A música está muito a frente de nós".

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

escrito na confusão de álcool e dor

TH

Pequena,
branca,
e um odor de carne em flor.
Tu atrais olhos e não és frágil.
Portão de ferro, você não tem tamanho para tanto arranco!
Jubilosa criatura que sustem a prata perfurada
e sopra mudanças de ar.
Sim, onde estiver Ela estará contigo,
aquilo que amarra: o sonoro.
Uma e outra cicatriz sua me acena uma idade madura,
a cor de uma romã.
A solidão lhe perfura e arde
Tu vibras e sabes ser amante.
Estertor.
Estupor.
O outro cintila à frente e tu silencias,
Só ouve o desejo mudo.
Diga-me, qual teu segredo?
Olhos negros, opacos, que não sei dizer quem.
Diga-me, qual tua dor?
Tuas mãos operam carícias, arranjos,
e ofereces ao mundo, a mim, ao Tu.
Tu me afiguras grande e inteira.
Busca o conforto de braços e laços leitos: a encaracolada junção.
Careces do outro, aquele que lhe despertará refluxos, sol, risos.
Ainda te verei altiva aos ventos da proa,
Minha pequena ouvinte dos desígnios.
És quem transporta a chama. És quem guarda o mágico.
Sou-te adorador fiel do mundo guardado.
Leve-me contigo e acolha meu ventre desraigado.
Lança-me sua complexa idade.
Lança-me seu grito, sua sussurrada confissão,
e atira-nos seu coração.
Tu desperdiçaste-me a toa.
Tu morreste pra mim.
Contudo,
 vivemos no mundo
E o mundo vive em você.
Meu anjo, minha dor,
Não somos a parte mais importante desse mundo.
Mas nós e o mundo, ainda vivos,
precisamos de ti.
Cuide-
se.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

tão perto tão longe

Uzalá!

Para pessoas feitas de mel
Minha esfera é de madeira

Cravos os dentes nessa tábua
Respiro ouro de tua apariação

Fiaposóis

Um alto pensamento
Agarra o tomluz

Um chapéu alemão
Guarda divagações

E é úmido esse refúgio de chuvas

Entorno baldes cristalinos
Aspiro poeiras
Expiro frequências
Tramo ramos harmônicos
E é voltátil a matéria

Juro
Somos feitos de som
Minhas escamas são cinzas
Quem passa esfumaça

Radiante um colar
Raios os olhos
Radiosos cabelos

Uma canção Mahler

Aqui
Aquém
Além

Vou-me
Volta

Tua pela radiante me darda

Muito
Menos

Tão perto
Tão longe

Cabana 

Em seu seio
Em sua cia
Com quem estar?
Há alguém que me entenda?
Um em miliumanoites?

Tua voz
Tua mão
Essas presenças vibratéis

Tu transpira dourado
E eu tremo:

te amo

A uma devagarosa mulher no mundo
Do mundo
O amor em visita

Torna
Retorna
Entorna

A ti

Música!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Esqueço ela

Enquanto a cidade de negócios dorme
Todos seus problemas mentem acordados
Eu ando pelas ruas para acabar com meu choro
Mas ela nunca vai mudar os jeitos dela

Não se engane
Ela era angústia do momento que você a conheceu
Meu coração ainda se sente assim
Como eu tentei achar o desejo de esquecê-la de alguma forma
Eu acho que eu a esqueci agora

O amor dela é uma rosa morta e agonizante
Tirando suas pétalas e um homem que conheço
Todo cheio de vinho o mundo antes dela
Mas se torna sombrio com nenhum lugar pra ir

Minhas lágrimas caiam quando tentava esquecer
O amor que era uma brincadeira do dia que nos conhecemos
Tudo das palavras tudo dos homens dela
Tudo da minha dor quando me lembro de quando
Relembro do cabelo dela quando brilhava no sol
E eu estava lá na cama quando eu soube o que ela fazia
Falar pra você mesmo várias vezes que você nunca vai
Precisar mais dela

Não se engane
Ela era angústia do momento que a conheci
Meu coração ainda está envenenado
Quando tento achar o desejo de esquecê-la de alguma forma
Ela esta lá fora em algum lugar agora

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

M. de Barros

A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.