sexta-feira, 25 de setembro de 2009

criar, encantar...

Todo ser humano que cria é um justo. De que maneira sua arte justifica o artesão? O homem que cria sua coisa ainda inexistente é justificado pela emoção imprevista que ele sente olhando o que ele fez outrora.

Quando inventamos, a surpresa da invenção escapa, já que nós a preparamos e que a ajustamos. Mas o tempo passa. E, quando não conservamos a memória da sua fabricação laboriosa, ela nos surpreende. Esse destino onde as fontes se confundem nos aproxima da impetuosidade da fonte. É essa proximidade do caos que nos julga. É o nosso único juiz.

Na realidade não podemos nos dar o mérito da alegria que ela nos trouxe em retorno. O que nos consola no que fizemos não é o reconhecimento dos homens, nem o momento da venda e o lucro resultante, nem a admiração de alguns, mas a espera desses retornos imprevisíveis.

Não é um outro mundo ou ou uma posteridade nos séculos que nos animam: é esse esquecimento do que nós fizemos e que nos volta como uma nova luz, que promete à nossa vida um curto-circuito de pasmo e aniquilamento de nós mesmos. São os êxtases.

É uma felicidade para nós nos perdemos em nossas obras. Os dias passam então a uma velocidade do raio que cai. Então choramos lágrimas que não nos são mais pessoais e que se escoam no primeiro Dilúvio que os deuses ensurdecidos enviaram. Nós nos naufragamos.

Há pessoas que vão ao mar com um pequeno vento e atravessam o mar: eles o fazem mas não o atravessam.

O mar não é uma superfície . Ele é de alto a baixo o abismo.

Se quiseres atravessar o mar, naufragas.

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