ME DESPETALE
Expectativa (Erwartung).
Nós aguardamos nosso amante no bosque,
na noite de nosso desespero.
A solidão perturba.
Ela goteja das folhas.
Nós nos encharcamos dela
Fingimos despistá-la em falas gastas
e horas vãs.
Nossos planos sucumbem
no arco lento do tempo.
A terra absorve o sangue.
Minha boca sorve a sua.
E os passos dão voltas
no vácuo de nossos sentimentos.
O céu nunca evelhece.
A lua nos saúda
e nos confunde:
Somos vítimas ou algozes?
O que nos amedronta?
Temes seu próprio rosto?
Quem cometeu o crime?
Quem roubou o júbilo
e instalou o horror suave?
Quem nos esqueceu?
Sem memória, sem lembrança,
sem espaço, sem ti,
sem origem, sem futuro
sem ninguém,
nada
Minha cabeça cai.
Olho pro chão e vejo criaturas minúsculas
Aquele que pena também regozija
E é imenso o desejo.
Desejo que me desejas.
A perverção se converte em medo.
Toda a estranheza copula.
A natureza fabrica suas secreções,
e suas correntes subterrâneas de insanidade.
Me Invade a corrente vertiginosa da dor
Enche minha mente de fábulas.
E tu me apanha e me guarda na mão
No alto pensamento
um acesso sopra a luz.
Crispa a pele.
Estala os ossos.
E é de prata minha espera
Estamos perfurados,
Vagas de nada
e dafnedálias.
As árvores rodopiam na noite do céu.
Os sons inauditos gritam.
Eles batem, batem e correm.
Os monstros não-sonhados folgam.
Ouço o roçar de asas noturnas
Criaturas rastejam e se aninham
na sombra de teu desejo.
Aberrações trepam.
E é enorme o canto.
Entre o vivido e vivível está a vida.
A vida é um acesso de forças inumanas,
devires.
Ela é maior que nós porque se enrosca com a morte.
A vida resiste à morte. A morte resiste à vida.
Nosso coração se despetála.
Torna-se cristal.
Miragem.
Travessia.
Raio.
Cinza
Silêncio
E
Eu,
Te conheço:
Tu é a que se curvou profundamente,
Eu, o perfurado, me sujeito a ti.
Onde uma palavra em chamas nos testemunhou?
Tu - toda, toda real
Eu - todo imaginação
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