segunda-feira, 26 de outubro de 2009

sento. sinto. cito. escrevo

ME DESPETALE

Expectativa (Erwartung).

Nós aguardamos nosso amante no bosque,
na noite de nosso desespero.

A solidão perturba.
Ela goteja das folhas.
Nós nos encharcamos dela
Fingimos despistá-la em falas gastas
e horas vãs.

Nossos planos sucumbem
no arco lento do tempo.

A terra absorve o sangue.
Minha boca sorve a sua.
E os passos dão voltas
no vácuo de nossos sentimentos.

O céu nunca evelhece.
A lua nos saúda
e nos confunde:

Somos vítimas ou algozes?
O que nos amedronta?
Temes seu próprio rosto?

Quem cometeu o crime?
Quem roubou o júbilo
e instalou o horror suave?
Quem nos esqueceu?

Sem memória, sem lembrança,
sem espaço, sem ti,
sem origem, sem futuro
sem ninguém,
nada

Minha cabeça cai.
Olho pro chão e vejo criaturas minúsculas

Aquele que pena também regozija
E é imenso o desejo.

Desejo que me desejas.
A perverção se converte em medo.

Toda a estranheza copula.
A natureza fabrica suas secreções,
e suas correntes subterrâneas de insanidade.
Me Invade a corrente vertiginosa da dor
Enche minha mente de fábulas.
E tu me apanha e me guarda na mão

No alto pensamento
um acesso sopra a luz.

Crispa a pele.
Estala os ossos.
E é de prata minha espera

Estamos perfurados,
Vagas de nada
e dafnedálias.

As árvores rodopiam na noite do céu.

Os sons inauditos gritam.
Eles batem, batem e correm.
Os monstros não-sonhados folgam.
Ouço o roçar de asas noturnas

Criaturas rastejam e se aninham
na sombra de teu desejo.
Aberrações trepam.
E é enorme o canto.

Entre o vivido e vivível está a vida.
A vida é um acesso de forças inumanas,
devires.

Ela é maior que nós porque se enrosca com a morte.
A vida resiste à morte. A morte resiste à vida.

Nosso coração se despetála.
Torna-se cristal.
Miragem.
Travessia.
Raio.
Cinza
Silêncio

E

Eu,
Te conheço:
Tu é a que se curvou profundamente,
Eu, o perfurado, me sujeito a ti.
Onde uma palavra em chamas nos testemunhou?
Tu - toda, toda real
Eu - todo imaginação

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