segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ensaio para ensaio dos arcos

Em grande parte aquilo que compreendemos como sendo nossa idéia de mundo, uma forma entranhada de convívio com o outro, quase sempre seguida de uma maneira de agir, está constituída pela leitura (escuta). E mais entranhada se pode considerar esta leitura quando a tratamos como um sinal de convívio com o outro. Se escrevemos livros movidos por este cuidado – e aqui não se pode esquecer que o solilóquio é uma das manifestações de nossa entrega ao mundo – é também verdade que sua leitura se assenta em nossa percepção de uma familiaridade.


A muitos pode parecer estranho que se alcance tamanha afinidade com instâncias dentro e fora de nossa medida de tempo, o tempo real, do imediato, dessa fratura ditada pelo atual ou contemporâneo. Percorremos desembaraçados, entretanto, as trilhas mais suspeitas quando somos tocados pelo afetivo. Nenhuma temporalidade nos indica o caminho quando nos entregamos à vertigem do ser. Os dias, os livros, os amores. As anotações que fazemos no pergaminho do tempo são pirogravuras. Entram e saem pelo porto do infinito e identificam uma proximidade imprevisível entre circunstâncias díspares.

Já não se trata tão somente de ler no sentido corrente da interpretação como hábito ou lazer, tarefa ou mania, mas antes, uma disposição para participar do mundo, a partir dessa espiral reflexiva que transmite a leitura. É efetivamente trazer o mundo para dentro de si, na igual proporção em que se dispõe a dar tudo de si para participar deste mesmo mundo. É o que acontece quando nos integramos ao corpo da leitura onde a própria respiração se confunde com o batuque que vem de todos os sítios dessa leitura, ao ponto de criarem uma partitura de convergências, uma simultaneidade de aparências, elos que se definem onde antes talvez nem se houvesse dado por conta.

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