sábado, 7 de agosto de 2010

Qual o sentido desse blog? "Preservar e abrir espaço"

Quase ninguém lê esse blog. Não é um fato exclusivo desse mas de quase todos blogs. Esse blog pra mim serve como um depósito. Sou como uma topeira. Um animal subterrâneo que se esconde no escuro e que junta coisas em sua toca. Aliás, acredito que o animal humano esteja mais para esse tipo de mamífero roedor, que escava e junta coisas no subsolo, do que outra coisa. Ironicamente as pesquisas científicas utilizam cobaias roedores para a descoberta de soluções de doenças e comportamentos humanos porque essas criaturas são as que tem o metabolismo mais parecido com o nosso. E também porque o rato é  mais descartável que o macaco...

Sendo assim o blog é uma reunião de coisas que vou postando, listando. Coisas que me emocionaram ou que achei interessante. Ele é um depositário de minha memória,pra depois eu mesmo ler e lembrar. Ele também pode ser um campo de batalha, lugar onde eu exercitarei e depositarei meu ato criativo, um poemacto. Devo dizer que me incomoda esse aspecto intimista do blog, essa voz em primeira pessoa, esse "meu espaço". Vivemos hoje uma hipervalorização da intimidade. Confesso que sinto náuseas todas as vezes que vejo isso nas galerias, na literatura, na internet e no teatro. As pessoas da geração de meus pais - os artistas e ativistas da geração de 68 - estavam ocupados com o enfretamento do mundo e não com essa coisa ambrosiana, frágil, fracionária da esfera intimista.

Deixo aqui um trecho de "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino que me emocionou muito. Diz sobre o sentido da arte. Mas do que isso, fala sobre uma vocação humana para o séc XXI:

"O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte dele até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizado contínuos: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.”

(Ítalo Calvino in “As Cidades Invisíveis”)

3 comentários:

  1. Eu leio e gosto. Fernando

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  2. eu, no meu quarto invisivel, leio, ouço e sinto as suas palavras entrando sorrateiras pela janela, como o vento.
    as vezes, sinto-as como uma brisa que aproxima-se, vagarosa, causando em mim um arrepio. chegam até a balançar meus cabelos, sacodem as cortinas, supendem os papeis soltos pelo chão. e em dias mais ferozes, arrancam os livros da estante, espalhando-os por toda a casa.

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  3. Eu tb leio, gosto e acho que vc deveria responder a cada comentário.

    Abs do Lúcio Jr!

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