sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Henryk Górecki



Conheci o compositor Henryk Górecki por acaso quando encontrei um disco do selo Naxos em uma loja escrito "new polish composer". Dei uma olhada no folder e fiquei interessado. Comprei no escuro sem saber o que encontraria ali. Tratava-se de uma coletânea das principais obras do compositor polonês: "Sinfonia No.3" e "Three pieces in old style". Fiquei estupefado. Parecia que eu ouvia um monastério ali, repleto de linhas melódicas lamentosas com osbcuros e nostálgicos acompamentos de orquestra.

Górecki faleceu hoje aos 76 anos. Foi um compositor contemporâneo que a maneira de Carl Orff compunha inspirado pelo antigo, sem medo do tonalismo e do empréstimo dos estilos que caracterizavam a música antiga. Górecki fazia música séria. Porque séria? Porque a dor que elas comportam e transportam são de outro mundo que não esse aqui das nossas ocupações e preocupações ordinárias. Elas disparam um tempo antigo que ressoa e se faz atual em nós. Uma dor impessoal mas universalmente humana. Músicas que comportam uma dimensão do sagrado. Esse sagrado, para além de qualquer dogma ou religião e que se encontra tão fracionário e apagado de nossas vidas.

O antigo não é o passado. Ele é o que não é contemporâneo. Ele é a diferença, o diferente. O museu de coisas antigas não é o velho morto arquivado e catalogado. Ele é o espaço do horror, da descoberta, do diferente, de uma re-visão do novo. O diferente nos revisita. O antigo nos invade e vaza os olhos com nascentes.

Há uma passagem no I Ching que define a música como "a emoção mais profunda a qual não podemos conhecer". As pequenas dores falam. As grandes calam e apenas reverberam. Acho que a música de Górecki me causa essa re-descoberta e sensação.  Relembra em mim um lugar recôndito do viver e do sofrer, um sentimento especial ao qual não podemos esquecer. Mas acontece que nós sempre esquecemos e o refutamos e, de alguma forma, em algum lugar e hora, ele retorna em nós sonoramente.  E, nesse estado de estremecimento, nós experimentamos o sentimento do  frágil da vida, do perecimento e do morrer. As intermitências da morte. Aprendemos um pouco mais co o ciclo vida-morte-vida, nos tornamos um pouco mais experientes com a dor. Quem sabe talvez com reforços interiores. Talvez com mais humildade. Talvez com mais fé e mais aspiração.      

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