quarta-feira, 18 de novembro de 2009

uma pseudo-teoria sobre o feminino...

Decidi escrever um pouco sobre algumas idéias que eu tenho sobre mulheres e o feminino. Não são idéias originais minhas, mas uma visão que eu tenho e que eu atualmente acredito. São impressões retiradas das minhas leituras, observações e experiências. Decidi compartilhá-las, expor, me expor aqui.

O assunto é...digamos... uma certa "dimensão ampliada" da mulher. O que tem nelas que me fascinam. Eis a minha visão sobre o tema:

Para se perceber uma dimensão ampliada nas mulheres o "amador" precisa captar uma outra esfera da Sedução. Ser seduzido nessa outra esfera é feminizar-se... Não confundir com se "afeminar!" São duas coisas bem diferentes! Um homem feminizado não é o gay, nem essa moderna representação andrógena do homem que encontramos nas revistas e passarelas da moda. Não se trata de uma questão de estilo, de aparência, de representação. Não é uma questão de impostura.

O crespúsculo do supermacho... A imagem de virilidade modifica com o tempo... O machista é aquele que só é capaz de entender e perceber a mulher pelo viés que lhe interessa: do macho.
Istó é:
Mulher = força de trabalho.
Mulher = fraqueza ou sedentarismo.
Mulher = reprodutora.
Mulher = objeto de prazer.
Mulher = consumidora.
Mulher = obediência.
Mulher = físico, aparência.

Territórios, domínios (dominação), marcas de poder.

O feminino é de outra ordem. É da ordem do fora, do des-poder, da anulação. O feminino é des-ordem. Ele é a ausência. É a mulher que dá forma à ausência. Ela tece, ela canta, encanta. Como negação, o feminino não é a negação como oposição de força (isso é feminismo), mas a escapada, o passo ao lado. Não é uma inversão, mas uma reversão. O feminino então não é o pólo oposto (+ e - / forte e fraco/ falo vs. castração), não é a outra parte, a outra metade do duplo. Ele é o exterior, o aberto, aquilo que faz fugir, a linha de fuga que esboroa a estrutura e a lógica. O feminino é uma intensidade no sentido Deleuziano.

Então aquele que só apreende a mulher como objeto de desejo deixa de captar essa dimensão libertária, escapando-lhe o feminino. Pra mim esse feminino é o mais atraente em uma mulher. Uma mulher só pelo fato de ser mulher não é suficiente para me atrair (seduzir). Também, uma mulher que seduz e investe sua sedução apenas na porção mulher=objeto de desejo, também se iguala àquele mesmo macho, já que sua sedução aí se encontra bastante circunscrita, reduzida. Nesse nível ela se iguala à outra ponta do jogo ordinário dos sexos. Ela entra e se adequa ao jogo do macho. Nesse lugar ela se basta por pouco atributos, geralmente físicos, eróticos ou exóticos. Ela se torna um fetiche. Todas que possuirem esses atributos mensuráveis estarão em pé de igualdade entre si e formarão uma massa. Daí a confusão e a pequena fartura ilusória dos machinhos: "existem tantas mulheres "boas" e "gostosas". Todas mulheres são iguais! Então quanto mais eu as possuir melhor! Terei várias! Comerei todas!"

A mulher aí se quantifica, se mensura: cor, cabelo, pêlos, pernas, pé, pele, barriga, cintura, unhas, sapato, lábios, meia, blusa, bunda...

O feminino não. O feminino é desmesura.

Ora, Don Juan (o conquistador de mulheres) foi por acaso artista? É uma questão. A arte talvez esteja na ordem do feminino. E não se trata de um feminino sem punjança, sem vigor, sem sangue, sem beleza. O feminino também pode ser viril. Ele tem sua força. Não podemos confundir força com poder. Força também não é sinônimo de emasculado.

É preciso que esta esfera do feminino me transe, me capture, me arraste, me faça fugir. Nesse ponto eu também me torno (devir) um pouco feminino. Todo homem que fala da ausência do outro, feminino se declara: esse homem que espera e sofre, está milagrosamente feminizado. Um homem não é feminizado por ser invertido sexualmente, mas por estar apaixonado. O futuro pertencerá àqueles que têm algo de feminino.

Sempre gostei de observar homens fazendo coisas que revertem a tradicional representação do homem viril. Geralmente são atividades delicadas (mas não confundir o feminino também com o delicado ou o idílico!) Ex: Um jardineiro; um homem que carrega ou dá de comer a um bebê; um pintor; um bailarino; um alfaiate; um cozinheiro etc..

O detalhe disso tudo é que, como animais que somos, homens e mulheres precisam satisfazer suas necessidades e pulsões mais básicas e primordiais. Nos igualamos e nos entretemos na esfera do bicho. Somos todos bichos... (e alguns, bichas...) A carne quer satisfazer-se, quer deixar ser possuída pela pulsão primeira. E aí nós nos adequamos nas relações e nas projeções mais imediatas e corriqueiras: ele me come, eu como ela. "Quero que ele me pegue como uma mulherzinha" e vice versa. Istó é bem natural, bem natural e normal! Isso não deixa de ser prazeroso, saudável e recomendável! Sou da opinião que isso é fundamental (o arroz com feijão!) e não pode ser reprimido, censurado ou posto de lado. Afinal somos animais (animais não desanimais!) com corpos desejantes, cheios de órgãos, glândulas e hormônios capazes de alterar nossa imaculada mente e psicologia.

No entanto acredito que uma visão mais "abrangente" da mulher e uma mais "rústica" podem sim caminhar juntas e entrelaçadas, sacou?

De certa forma sou um fracasso no papel do macho garanhão, "pegador". Tenho consciência que dedico parte do meu tempo, da minha libido e imaginação nessas porções menos palpáveis, e que procura abrir as janelas para a brisa do feminino entrar na minha vida. Não sou menos homem por ser mais sensível nesse aspecto. É uma troca simbólica de alto nível, não menos intensa do que a carne, mas de outra modulação. Ela investe a carne de outros matizes, outras correntes, outras erupções, outras agitações. O bom da coisa é que uma não impede a outra. Ela é um acréscimo, uma exorbitância. Então por que não?

Sim. O "sim" feminino que se prolifera e encerra o monólogo de Molly Bloom no Ulisses de Joyce. O "Sim, eu quero sins": o desejo ampliado, a exaltação de uma vida imensa. O feminino é uma invasão, uma outra penetração. Ele penetra e enche de vida a vida do "amador". O feminino é um transbordamento, um acesso afeito ao poético. Algo como uma mudança de ar.

Sinto-me bastante amador. Amador com mulheres.

E por aqui fico. O feminino ultrapassa e escapa a todo esse meu palavrório, essa retórica que se captula tentando territorilizar e dizer sobre o indizível e o incapturável: o feminino, pura intensidade.

Encerro com um trecho literário de O Amante de Maguerite Duras. É uma mulher quem fala:

Certo dia, já na minha velhice, um homem se aproximou de mim no saguão de um lugar público. Apresentou-se e disse: “Eu a conheço há muito, muito tempo. Todos dizem que era bela quando jovem, vim dizer-lhe que para mim é mais bela hoje do que em sua juventude, que eu gostava menos de seu rosto de moça do que desse de hoje, devastado.”

Penso freqüentemente nessa imagem que só eu ainda vejo e sobre a qual jamais falei a alguém. Está sempre lá no mesmo silêncio, maravilhosa. É entre todas a que me faz gostar de mim, na qual me reconheço, a que me encanta.

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