domingo, 27 de junho de 2010

no entressonho


E você, quem é que você acha que sonhou?

Ao sol brilhante segue o barco em frente.
Lento desliza, sonhadoramente,
Inclinando-se à voga na corrente.

Cara crianças, um trio a escutar,
Excitamento e brilho em seu olhar
Por tão singelo conto a palpitar.

Longe se vai aquele céu dourado,
Eco que se esmorece, do passado:
Ao sol de estio, sucede outono e enfado.

Sempre me perseguindo essa lembrança.
Alice , sombra no céu que não se alcança,
Nunca vista por olhos sem esperança.

Contudo, vejo-as ainda a palpitar,
Em seus rostos acesos este olhar
Luzindo de avidez ao escutar.

Imagens de um país de maravilhas,
Distantes neste sonho onde o sol brilha,
Distante sonho onde o verão se estilha.

Elas deslizam ao longe, no entressonho,
Lentamente sob um céu risonho...
Longe. A vida o que é, senão sonho?


(Trecho final de “Alice através do espelho e o que ela encontrou lá” escrito por Lewis Carrol em 1871. Tradução de Sebastião Uchoa Leite, 1977)

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