quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Homenagem a John Cage

No ano passado me liga uma dançarina aqui de BH dizendo que precisava de uma trilha sonora para uma performance solo de dança contemporânea. Marcamos um café e na conversa ela me disse que a coreografia seria inspirada nas vanguardas artísticas do séc. XX, com ênfase nos artistas norte-americanos, já que a performance seria apresentada lá. Achei meio esquisito uma brasileira levar para o EUA um trabalho com referências tão diretas aos artistas de lá com o risco da coisa ficar meio insossa e patética.  Nos despedimos com o compromisso que ela me ligaria para marcarmos um segundo encontro, quando eu levaria alguma idéia ou proposta. Fui pra casa com o desafio de pensar em alguma coisa...Foi então que me veio à mente figura de John Cage...pelo seu experimentalismo, pela sua interação com outras aéreas artísticas (inclusive a dança), pela sua ruptura estética, seu pensamento e seu interesse pela antropologia e a cultura de outros povos. Foi então que comecei a ler o livro "Silence" de Cage e a ouvir várias gravações de peças dele. Daí comecei a brincar sem compromisso, colando e sobrepondo algumas peças distintas, algumas compostaspara percussão ou voz.  Me interessei sobretudo por uma longuissima gravação dos diários de Cage, gravados na voz do próprio compositor. Os diários reúnem reflexões, comentários e apontamentos sobre o mundo, a arte, o processo civilizatório ocidental e oriental etc.. Então me veio a idéia de produzir alguns caleidóscópios sonoros utilizando esses diários-sonoros e intercalá-los com peças para piano preparado que fossem mais "cruas" e "diretas", que tivessem uma sonoridade tímbrica e tratamento musical mais definido para ajudar no trabalho coreográfico.
Essa idéia de caleidoscópio-sonoro feito apartir de colagens foi um recurso bastante experimentado por Cage, como por exemplo a recriação do Finnegans Wake de James Joyce onde Cage utilizou um vasto mosaico de sons e paisagens sonoras. O próprio conceito de colagem não era para Cage nenhum problema, já que a criação no século XX não poderia continuar refém ao tabu e ao culto do autoral e do "original"...
O que aconteceu foi que a bailarina nunca mais me ligou e nada aconteceu.
Em todo caso guardei alguma coisa dessa minha brincadeira e experimentaçãozinha:

Homenagem a John Cage by Francisco Cesar

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